Em seu livro “Crescer, Os Três Movimentos da Vida Espirítual”, Henri Nouwen nos diz que somente aquele que é pobre de coração pode ser um bom anfitrião[1]. Na verdade, o que o autor está querendo nos dizer é que um “bom anfitrião”, isto é, uma pessoa “mente aberta”, alguém que possui humildade para abrir seu coração à novas idéias, à conceitos desprendidos de conveniências sociais, etc... deve ser “pobre de coração”. Este termo não é pejorativo, haja visto que, por serem pessoas que não têm muito o que perder, ao contrário daqueles que tem muita coisa à zelar, acabam sendo os mais abertos ao novo. Assim, a pobreza seria a medida da boa hospitalidade, da boa recepcionalidade. Quanto mais coisas ou convicções possui o indivíduo, mais considera outras idéias como ameaças, e acaba refutando tudo aquilo que vem de fora para manter protegido aquilo que já interiorizou.
Antes de prosseguir, devo fazer uma breve ressalva. O autor, na verdade, trata da recepcionalidade das idéias cristãs em nossa vida. Ao ser citado pelo pastor Marcelo Gomes, da IPI de Maringá (a qual frequento), Nouwen foi citado para explicar que o verdadeiro cristão deve ser aquele que não se prende à cerimônias ou ritualísticas, mas que está sempre de coração aberto à Graça, ao plano que Deus tem para nossas vidas.
Bom, questões de fé a parte, ao ouvir a pregação não pude deixar de refletir à respeito do que anda ocorrendo na UEM. Recentemente (sexta-feira, 26/08), a reitoria da Universidade foi ocupada pelos estudantes. Este ato se deu, todavia, como forma de manifestação após diversas revindicações e tentativas “amigáveis” de melhorias para o RU, em contrapartida ao corte no repasse de verbas de 38% às universidades estaduais do Paraná pelo governo estadual. O estudante Celso, em entrevista postada no blog criado pelo Movimento, declarou que “a gente vem desde o começo do ano entregando uma série de reivindicações, cartas de reivindicações pro reitor, viemos fazendo reuniões com a reitoria, abaixo-assinados, diversas maneiras, diversos modos de negociação foram tentados”. O reitor, todavia, não demonstrou nenhum indício de que cumpriria as reivindicações propostas pelos estudantes.
A solução encontrada pela reitoria foi repassar isso para frente, isto é, cortar gastos, não contratar funcionários efetivos, não atender às reivindicações feitas desde o começo do ano pelo DCE etc. Além disso, aumentou-se o número de cursos, logo, de estudantes, e nada foi feito para melhorar as estruturas no campus. Em suma, a situação é a seguinte: o governo cortou em torno de 2,9 milhões de reais no repasse de verbas à UEM, enquanto precisava destes recursos para melhorar sua estrutura. Alguém teria que arcar com a míngua. Ao invés de se mobilizar, buscar reverter essa situação, o reitor acomodou-se nos meios “administrativos”, burocráticos, apenas encaminhando a carta de reivindicações dos estudantes ao governados e repassando o corte de verbas para funcionários e alunos. Foi neste empasse que, sem perspectivas de mudanças, os estudantes decidiram por mobilizar-se e partir para uma ação mais direta.
O reitor, entretanto, não tardou em denominar a ação como “vandalismo”, e a mídia tradicional maringaense tratou de pintar os estudantes como “baderneiros” depredando patrimônio público. Paro e penso: será que nosso reitor tem sido um bom anfitrião aos reclames dos estudantes e trabalhadores do RU, ou simplesmente tem políticas demais, interesses demais já consolidados para tentar resolver a situação do Restaurante?
Ao que parece, sair desta esfera meramente formal de exigir as coisas soa como absurdo para alguns. Quando bancos ou grandes corporações entram nos caminhos da bancarota, vemos como normal o governo se mostrar solicito e mandar recursos ou cirar insentivos fiscais para que estes não quebrem. Ao tratar da educação, todavia, o governo de Beto Richa cortou gastos e decretou um “se virem” às universidades estaduas paranaenses. A reitoria, ao invés de buscar pressionar esse governo, para que esta situação pudesse se reverter, concentrou-se apenas no seu problema: a falta imediata de recursos.
Não obstante, tenho visto estudantes da prórpia UEM sendo contra esse movimento. Eu não consigo enteder o porque. Estando contra ou a favor, se o movimento sair triunfante, todos os estudantes serão privilegiados. Se não der certo, o máximo que pode acontecer, é continuar do jeito que está. Os argumentos são diversos. Uns dizem que é porque existem aproveitadores no meio querendo divulgar outros movimentos, outros dizem que ao invés de reivindicar, os estudantes deveriam se conformar com o que tem, porque, afinal, muita gente mesmo não tendo recursos conseguiu se destacar (olhe que absurdo!), outros ainda que não representam a maioria dos estudantes (como se possível fosse representar tudo e todos, e como se o reitor assim o fizesse...), fazem tempestade no copo d’agua com a questão de “depredação de patrimônio público (que se resumiu a uma porta, que ja esta sendo concertada pelos estudantes), ouvi inclusive a respeito de manifestações que deveriam ter “fundamento legal”.
Enquanto os estudantes que estão ocupando a reitoria, assim o fazem em prol de melhorias para toda a faculdade, e não apenas à si próprios. O reitor, porém, apenas encaminhou formalmente o documento de reivindicações à Flavio Arns. No mínimo, um péssimo anfitrião aos interesses da Instituição. Por outro lado, os estudantes estão dando uma “aula de ciência política, na prática”, como diz o prof Antonio Ozaí, ao organizar um movimento buscando melhorias para toda a Universidade. Estes sim, estão sendo excelentes hospitaleiros das necessidades do campus. Devemos tomar cuidado para não interpretarmos a ocupação de acordo com estereótipos e não agirmos com puro preconceito, sob pena de condenarmos aqueles que estão sendo os verdadeiros anfitriões das necessidades da Universidade.